sexta-feira, 8 de abril de 2011

A triste história de um pobre rico pobre


Não é que a semana passou depressa? Até que enfim hoje é sábado! Já estava ansioso, visto que ontem foi dia de pagamento e tenho o fim de semana inteiro livre para gastar meu dinheiro da quinzena. Vou aproveitar que em sábados as lojas do centro da cidade estão abertas e pagarei algumas continhas. Como é bom poder trabalhar e, ao final de cada mês, poder ter em mãos o fruto do próprio suor, conquistado com tanto esforço! A propósito, meu nome é Júlio.

Lá vou eu. A parada de ônibus fica a uns 100 metros da minha casa. Canudos Esmeralda é a linha. Vem chegando, lotado como sempre. A passagem custa R$2,20, aí já começa a se esvair meu salário. Parece um valor pequeno, mas de R$2,20 em R$2,20...

O trajeto pareceu-me mais longo do que de costume. Deve ser porque não pude visualizar o exterior da lotação, devido ao excesso de passageiros.

“Esquina da Sorte”, diz o letreiro da lotérica localizada junto ao ponto em que desembarquei. Olhei para o letreiro uma segunda vez e vi que logo abaixo dizia: “Bolão Mega Sena, concurso 1155. Prêmio acumulado em R$53.000.000,00!” Pensei comigo na quantidade de coisas que se pode adquirir com essa quantia de dinheiro. Viagens semanais ao exterior, carros importados, ou melhor, muitas Ferraris. Casas luxuosas, apartamentos, mansões no litoral... é tanto dinheiro que as aplicações para tal valor me parecem infinitas.

Não suportei a tentação e entrei. Por ocasião do acumulo do prêmio a fila estava mais comprida que esperança de pobre! Literalmente! Uma quantia dessas é uma áurea oportunidade para se garantir um futuro gracioso para si e para a família toda.

A fila andou. Chegou minha vez. E agora? Quais os números em que devo apostar? A dúvida e a expectativa são consumidoras em um momento como esse.

Após alguns minutos de reflexão decidi apostar em números que tivessem alguma relação com a minha vida.

-Quero o 20. Faz 20 anos que sou casado, feliz e realizado ao lado de minha companheira. Pensei nela por que ela merece uma vida muito melhor, que não tenho condições de dar, mas que gostaria.

- O 28 também. Aniversário de mamãe. Dia 28 de julho. Como poderia deixar de pensar na minha heroína? Se ganhar, quero dar aos meus pais a vida que nunca puderam ter, mas que sempre tentaram dar a mim. Sou eternamente grato à eles.

- Marca pra mim, por gentileza, o 41. Essa é minha idade, 41 anos. São 41 anos de muita luta e muitas conquistas. Graças a Deus!

- Escolho o 58 e o 51. São as idades do meu irmão e da minha irmã, respectivamente. Eu não seria nada nem ninguém sem eles.

Falta ainda um número. A pressão é grande, o coração está acelerado, mas tenho que optar por algum...

- 40! Não lembro nenhum número em especial agora, então pode ser meu endereço. Rua Liberato Salzano Vieira da Cunha, nº 40.

A passos largos dirigia-me à minha residência, esperançoso, após passar todo o dia em função do pagamento de dívidas e criação de novas, quando, de repente, recebo um torpedo da Caixa Econômica Federal, visto que sou cadastrado em um pacote em que recebo um torpedo com a atualização dos sorteios da loteria. Pra minha surpresa, ao abrir o torpedo, os números sorteados eram: 20, 28, 40, 41, 51, 58. Justamente os números em que eu havia apostado. Estou rico! Estou rico! Gritava eu louca e perdidamente no meio da rua.

Retornei imediatamente à lotérica para informar-me sobre minha bolada, porém ao me aproximar, podia ver certo alvoroço em frente ao estabelecimento. Havia em torno de 40 pessoas. O motivo de tudo era que uma funcionária da lotérica, não registrou a aposta!

Nunca vi tantas pessoas enfurecidas juntas desde a última Copa do Mundo! Cerca de 50 apostadores do bolão tiveram seus sonhos lançados como areia ao vento por uma possível negligência.

E foi assim que transcorreu meu sábado, 20 de fevereiro de 2010. Dia em que acordei pobre, fiquei rico e dormi pobre novamente.

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